“…Quando alguém encontrar seu caminho, não pode ter medo. Precisa ter coragem suficiente para dar passos errados. As decepções, as derrotas, o desânimo são as ferramentas que Deus utiliza para mostrar a estrada.” (Paulo Coelho)
Motivação e Preparação
Depois de ler O Diário de um Mago, de Paulo Coelho, despertei a curiosidade pelo Caminho de Santiago de Compostela, mais especificamente o famoso Caminho Francês, de quase 800 km.
Sempre tive muita simpatia por assuntos místicos e por temas ligados à espiritualidade. Apesar de ter sido educada no catolicismo, sou uma curiosa de todas as crenças, de modo que me considero uma espiritualista, mais do que católica.
Mantendo minhas raízes religiosas, sou fascinada pela cerimônia da celebração da missa nos antigos moldes medievais: igreja gótica, cânticos gregorianos e incensário.
Comecei a me imaginar fazendo um caminho de peregrinação medieval, passando por vilarejos tipicamente medievais, com lindas igrejas em estilo gótico e finalizando o percurso com a missa dos peregrinos na catedral de Santiago de Compostela, ao som de cânticos gregorianos e um gigantesco incensário.
Essa ideia passou a fazer parte de uma das minhas metas de viagem. No entanto, não queria passar tanto tempo peregrinando, pois um trajeto de 800 km a pé leva cerca de 30 a 40 dias para concluir.
Eu não dispunha de tanto tempo de férias, e ainda que tivesse, não achei que seria necessário destinar todo esse tempo para vivenciar as experiências e sensações resultantes de uma longa caminhada em total introspecção.
Foi então quando, pesquisando sobre informações do Caminho, descobri que existem outras rotas além da tão conhecida rota francesa, de 800 km.

O Caminho Português foi minha escolha, já que, além de ser mais curto (500 km a partir de Lisboa), me permitiria dedicar algum tempo para explorar Portugal e visitar o Santuário de Fátima.
Como eu tinha apenas duas semanas de férias e pretendia, resolvi encurtar o caminho de modo a que durasse apenas uma semana.
Optei por não iniciar o trajeto em Lisboa, mas na fronteira com a Espanha, em Tui. Meu “Caminho” foi de 113 km, percorridos em 6 dias.
Dessa forma, pude deixar a primeira semana das férias para turistar por Portugal e a segunda, para peregrinar.
Qual é a melhor época para fazer o Caminho ?
Os períodos mais interessantes para se fazer o caminho são a primavera (nos meses de abril e maio) e o outono (nos meses de setembro e outubro), quando o clima é mais agradável.
Nessa época não faz o calorão típico do verão espanhol nem o frio rigoroso do inverno gallego. A temperatura varia entre 10 e 15 graus.
Além da vantagem climática, nesses períodos a tarifa aérea é mais barata que na alta temporada.
Eu optei por viajar no outono, mais especificamente no final do mês de setembro.
Apostei que seria um período menos chuvoso que a primavera. De fato, tive sorte, pois não peguei chuva em nenhum momento do percurso, apenas algumas fortes rajadas de vento, típicas da época.
Minha Passagem Aérea: o barato que saiu caro

Como minha peregrinação a Santiago de Compostela iria começar após uma semana de turismo em Portugal, o ideal seria que meu voo fosse direto para Lisboa.
Na procura de voos mais baratos que os da TAP para a capital portuguesa, encontrei uma companhia aérea que desconhecia, oferecendo passagens a preços absurdamente econômicos. Tratava-se da Cabo Verde Arilines.
Resolvi pesquisar sobre a empresa antes de adquirir o bilhete. Verifiquei que a Cabo Verde Airlines (TACV) tinha vários registros de reclamações referentes à falta de pontualidade. Mas até aí, considerando o valor da passagem, era tolerável.
Decidi então arriscar. Comprei minha passagem aérea baratíssima, partindo do Recife/PE, com conexão em Praia, capital de Cabo Verde. De lá partiríamos para Lisboa. O trajeto se repetia, em sentido inverso, no retorno.
Mas agora vou contar porque o “barato saiu caro”…
O voo de ida foi cancelado de última hora e o pessoal da companhia aérea deixou todos os passageiros totalmente desinformados. Não havia perspectiva de outro voo nos próximos sete dias, já que a empresa só fazia essa rota semanalmente.
Fomos levados para um hotel, em bairro próximo ao Aeroporto Internacional do Recife, enquanto aguardávamos um retorno sobre a possibilidade de outro voo no dia seguinte.
Até aí o estresse era grande. Todos os planos de viagem estavam à beira de serem cancelados. Com esse atraso, eu já havia perdido um dia de passeio em Portugal. O tour que havia reservado para Évora foi por água abaixo.
Até que, no dia seguinte, depois de muita confusão e enrolação, um dos passageiros usou de sua influência para obrigar a empresa a nos colocar no voo da TAP que sairia à noite.
Nessa história toda, perdi uma diária de hotel em Lisboa e um tour para Évora. Despesas que nunca foram ressarcidas, mesmo após ter formalizado reclamação junto à ANAC.
Mas a maior perda foi a da minha paz de espírito.
Entretanto, o estresse com a Cabo Verde Airlines não acabou por aqui. O retorno também foi outro pesadelo.
Saindo de Lisboa com destino ao Brasil, paramos para conexão em Praia (Capital do Cabo Verde).
No aeroporto, esperava-se que houvesse duas aeronaves destinadas a fazerem o voo para o Recife e Fortaleza, respectivamente.
Porém, havia apenas uma aeronave, um Boeing com mais de 20 anos, que não dispunha de espaço suficiente para todos os passageiros que se destinavam ao Brasil.
Passamos mais de três horas aguardando uma solução para que todos pudessem embarcar naquele dia.
Resolveram priorizar os passageiros que estavam em conexão. O voo teria um só destino: Fortaleza.
Uma vez embarcados, começou nova confusão. O sistema de ventilação da aeronave estava com defeito, o avião estava abafado e a tripulação nos mantinha presos. Estavam decididos a decolar naquela situação.
Alguns passageiros fizeram um levante e partiram para agredir os comissários. Foi então que decidiram permitir nosso desembarque e consertar o sistema de ventilação antes de prosseguir com a decolagem.
Foram mais algumas horas de espera, até que finalmente embarcamos e decolamos com destino a Fortaleza.
Naquele avião velho, cheio de problemas e com barulho de sucata, eu rezava para que chegássemos em paz.
Um vinho servido a bordo e a conversa sem fim de um dos passageiros me ajudaram a superar aquelas longas cinco horas.
Quando enfim cheguei ao Brasil, dei graças a Deus por estar viva.
Esse foi o barato que saiu caríiiiiiiiisssimo!!!
Não recomendo a Cabo Verde Airlines a ninguém. Melhor esperar uma boa promoção em companhias aéreas mais conhecidas e confiáveis. Aprendi a lição!!!!
Onde se hospedar durante o Caminho ?

Embora a maioria dos peregrinos opte por ficar em albergues, eu preferi quebrar a tradição e me hospedar em hotéis ao longo do percurso.
Quando organizei meu trajeto, defini data e lugar onde iria parar durante a peregrinação. Daí, reservei hotéis de categoria turística em cada ponto de parada.
Embora os albergues sejam bem mais econômicos, cerca de 10 euros por noite, eu optei por pagar três ou quatro vezes mais caro por uma noite reparadora após horas de caminhada.
Os albergues têm a desvantagem de terem quartos coletivos, onde nem todos respeitam o silêncio. Além disso, sempre há filas para usar o banheiro e os chuveiros.
Mas o pior de tudo é que ainda existe o risco de não conseguir uma cama para passar a noite, caso chegue muito tarde. Os albergues do caminho não fazem reserva com antecedência.
Eu, sinceramente, acho que vale muito mais a pena pagar cerca de 40 euros numa diária em hotel categoria turística, com quarto confortável, chuveiro quente e privativo, cama maravilhosa e café da manhã disponível.
Para reservar os hotéis, usei o Booking.com. Apliquei filtros que me direcionassem a hospedagens com boas avaliações, dentro da margem de preço que eu podia pagar. Fiz excelentes escolhas.
Foram hotéis muito confortáveis, com preços bem acessíveis e localização estratégica. A maioria estava situada no centro histórico dos vilarejos e dentro da rota.
Os hotéis reservados para cada parada foram os seguintes:
- TUI – Pensión O novo Cabalo Furado (30 euros);
- REDONDELA – Hotel Santo Apóstol (29 euros);
- PONTEVEDRA – Hotel Avenida (32 euros);
- CALDAS DE REIS – Balneario Acuña (41,60 euros);
- PADRÓN – Hotel Rosalía (29 euros),
- SANTIAGO DE COMPOSTELA – Nest Style Santiago (42 euros).
O que levar na mochila ?

Um dos grandes desafios do pretendente a peregrino, é fazer caber tudo que irá precisar durante viagem, dentro de uma mochila com peso máximo de 10% de seu peso corporal.
Eu, que me considerava uma viajante prática e minimalista, penei tentando reduzir minha bagagem ao peso máximo de 6,5kg. Não consegui. Acabei viajando com uma mochila que pesava nada menos que 9kg.
Na hora de selecionar o que levar, alguns aspectos precisam ser considerados.
- É importante que as roupas sejam leves, confortáveis e de fácil secagem, já que serão reutilizadas diversas vezes. Além disso, é interessante que tenham cores básicas e escuras, para disfarçar manchas e poder fazer várias combinações.
- Se for fazer o Caminho na meia estação, outono ou primavera, é importante atentar para a necessidade de ter roupas para o calor e para o frio, já que nesse período a temperatura costuma oscilar bastante.
- Além disso, para evitar calos a mais, é crucial escolher o calçado adequado. Na minha opinião, uma boa botina de trekking, leve, confortável e semi-impermeável, é melhor que um tênis.
Uma dica fundamental é amaciar a botina antes de viajar. Nada de fazer o Caminho com sapato novo, sem ter sido bem usado. Senão, os calos não vão te deixar concluir o trajeto.
- E para finalizar, não podemos negligenciar as meias. Elas não devem ser atoalhadas, pois acumulam suor e demoram a secar, o que favorece à formação de bolhas. É necessário ter meias que aqueçam e permitam a evaporação do suor.
Para fazer a peregrinação, precisei comprar um mochilão. Optei pelo de 60 litros da marca “Nautika”.
As mochilas cargueiras não costumam ser muito baratas, se as comparamos com o preço das malas. Mas a marca Nautika é brasileira, por isso ainda consegui comprar a mochila por um valor mais acessível.
Uma marca internacional bastante conhecida e muito usada por mochileiros, principalmente no Caminho, é a “Quechua”.
As mochilas dessa marca podem ser encontradas nas lojas da Decathlon. São mais caras que as da Nautika, mas parecem ter melhor qualidade.
Com relação ao calçado, adquiri uma botina mais econômica que as de marcas renomadas. Comprei a de fabricação própria da Centauro. Acho que foi uma boa aquisição, pois atendeu a todos os pré requisitos: leve, confortável, semi-impermeável e barata.
Abaixo, discrimino os itens da minha bagagem para percorrer o Caminho de Santiago de Compostela por uma semana.
Meu mochilão de 60L
Na mochila da Nautika, de 60 litros, coloquei roupas, sapatos, necessaire e kit-farmácia. Veja abaixo a lista de alguns itens:
- 2 calças do tipo legging
- 3 camisetas estilo academia (leves e de rápida secagem)
- 1 blusa de manga comprida flanelada
- 1 blusa de manga comprida em malha de algodão
- 1 blusa de manga comprida em malha fria
- 1 bermuda
- 1 casaco com enchimento sintético (é leve e esquenta bem)
- algumas peças íntimas de fácil lavagem e secagem (nada de sutiã com bojo !!!),
- 3 pares de meia
- 1 meião tipo segunda pele (para o caso de frio mais extremo)
- 1 echarpe flanelada
- 1 viseira (pode ser um boné)
- óculos de sol
- luvas
- capa de chuva
- havaianas (ou outro chinelo semelhante)
Recomendo incluir uma sandália de trekking para descansar os pés no fim do dia ou substituir a botina durante a caminhada, quando as inevitáveis bolhas pedem uma folga. Não levei e me arrependo tremendamente.
Até aqui, a mochila está dentro do limite de peso; a necessaire é o que exige maior atenção, pois dependendo do que se leve pode chegar a pesar mais de 1 kg.
Eu não gosto de despachar bagagem, por isso tive o cuidado de não levar objetos proibidos a bordo, como os cortantes ou pontiagudos.
Os líquidos devem estar em pequenos frascos de no máximo 100ml, totalizando o conteúdo máximo de 1 litro.
Além disso, devem ser colocados numa bolsa plástica com velcro, de forma a serem facilmente conferidos pelos fiscais de segurança do Raio X do setor de embarque.
Item imprescindível é um kit-farmácia contendo:
- agulha e linha para drenar as bolhas;
- álcool em gel;
- remédio para cicatrização de ferida;
- esparadrapo tipo microporo;
- gazes e pomada para dores musculares.
Ahh!! Cadeados sempre são bem-vindos. É bom ter ao menos dois deles com código secreto. Pode ser que precise deixar a mochila em algum lugar, e o cadeado dará maior segurança.
Também é importante não se esquecer de verificar o modelo de tomada do local de destino e levar o adaptador adequado.
Quanto ao peso, não tive problemas para embarcar com minha mochila de 60 litros, mas é preciso ter cuidado com as dimensões máximas para bagagem de bordo; a minha ficou no limite do permitido.

A mochila de "ataque"
Alguns itens pessoais como documentos, dinheiro e celular, gosto de levar numa bolsa à parte, que fique sempre comigo. Por isso que, além do mochilão, levei uma mochila pequena, estilo colegial.
Embarquei com as duas bagagens. O mochilão foi no compartimento superior, acima dos assentos, e a mochila menor, abaixo do assento à minha frente.
Na mochila menor, que chamo “de ataque”, levei:
- Alguns eletrônicos;
- casaco;
- pescoceira;
- óculos de grau;
- itens básicos de higiene (escova e pasta de dente),
- documentos impressos (cópia de passaporte, roteiro de viagem, vouchers e seguro viagem).
Numa pequena bolsa a tiracolo, que não desgruda de mim, nem quando vou ao banheiro durante o voo, coloquei o mais importante:
- Passaporte;
- Dinheiro e cartões de crédito,
- Celular
Não comprei o famoso e recomendável “cajado” de peregrino. Esperei sentir necessidade dele para adquirir algum no Caminho.
Acabei não comprando, mas talvez tivesse me ajudado nos trechos de subida, quando os calos incomodavam mais.
Ainda assim, não sei se levaria um numa próxima viagem de peregrinação. “Menos é mais”.
Quanto se gasta para fazer o Caminho Português ?

Durante o planejamanto de minhas viagens, estabeleço primeiramente quanto poderei gastar. A partir daí começo a traçar meu roteiro, incluindo locomoção, hospedagem, alimentação e passeios.
Em viagem internacional, normalmente faço uma média de 50 dólares/dia para hospedagem e 50 dólares/dia para passeios e alimentação.
Deixo sempre uma margem extra para compras em aeroportos e dutyfree ou para souvenirs baratinhos e promoções imperdíveis.
Eu não gosto de viajar com muito dinheiro em espécie; acho arriscado e me deixa muito tensa. Levo apenas o necessário para alguns pequenos gastos em que eu não possa usar o cartão de crédito ou para alguma emergência. Por isso, costumo viajar com 200 dólares em espécie e o equivalente a 100 dólares na moeda do país de destino.
Uso meu cartão de crédito para todos os gastos, a começar com a compra das passagens aéreas, o que me garante um seguro viagem de bônus se a bandeira for mastercard ou visa.
A reserva dos hotéis pelo aplicativo também é feita com o cartão de crédito, sendo normalmente creditado na hora do check in.
Uso o mesmo meio de pagamento para alimentação, passeios e souvenirs. Prefiro pagar o IOF e ter segurança na viagem, pois se me roubam o dinheiro, não tenho reposição, mas se me roubam o cartão, tenho como evitar prejuízos.
Além disso, o uso do cartão de crédito ainda me garante alguns pontos para trocar por milhas aéreas.
Como sou precavida, costumo levar dois cartões com bandeiras distintas, mastercard e visa. Uso apenas um deles; o segundo, deixo para o caso de emergência.
É importante estar seguro quanto à margem de compra no cartão, para não correr o risco de atingir o limite e ficar sem ter como usá-lo.
Outro detalhe a ser considerado é a liberação do cartão de crédito para compras internacionais.
Bom, após todas essas considerações, posso dizer que não recomendo levar grande quantia de dinheiro em espécie para fazer o Caminho de Santiago de Compostela. Principalmente se a pretensão for dormir em albergues.
Mesmo que o percurso seja cruzando países considerados “desenvolvidos”, nunca estamos livres dos espertinhos que se aproveitam dos mais distraídos.
Quanto ao que se vai gastar durante o Caminho Português, posso dizer que é muito pouco, considerando o que normalmente se gasta em viagens pela Europa.
Se for ficar em albergue, o custo da diária fica em torno de 10 euros. Se for ficar em hotel categoria turística, gasta-se cerca de 35 euros/dia.
No quesito locomoção, não preciso nem falar que o gasto durante o Caminho será mínimo, já que o percurso é todo feito a pé. Exceto se não suportar fazer o trajeto completo e precise pegar algum meio de transporte para chegar ao destino final.
Se não for iniciar o Caminho Português em Lisboa, precisará pagar pelo transporte até a cidade de partida. Poderá ser um trem ou um ônibus.
Como eu saí de Tui, uma cidade que fica na fronteira entre Portugal e Espanha, precisei pagar por uma passagem de trem entre a cidade do Porto e o meu ponto de partida.
Já saí do Brasil com a passagem de trem comprada. Isso me garantiu maior segurança quanto à certeza da vaga, além de um maior controle dos gastos.
Em Santiago de Compostela, após ter finalizado a peregrinação, também tive despesa com o deslocamento até o aeroporto.
No quesito alimentação, aí sim que o gasto é irrisório. O “menu do peregrino” reduz consideravelmente o custo das principais refeições. Para ter esse privilégio de comer bem, gastando pouco, basta mostrar a “Credencial do Peregrino”, da qual falarei mais adiante.
O café da manhã costuma estar incluso na diária da hospedagem. Nos hotéis onde me hospedei, estavam.


Durante a caminhada, basta levar algumas frutas, água e pequenos lanches, que podem ser comprados no vilarejo de chegada e partida.
Nessas cidades menores, o custo de vida é bem inferior ao das grandes cidade. É possível comprar lanches a preços mais acessíveis, mesmo considerando uma moeda forte como o euro.
Considere gastar com lanches e água não mais do que 5 euros por dia.
Aqui vale uma ressalva em relação à agua. Mesmo sabendo que nos países desenvolvidos da Europa a água de torneiras e fontes é potável, durante o Caminho Português não encontrei muitas oportunidades para reabastecer minha garrafa d’água. Por isso menciono incluir o gasto com água no orçamento.

O almoço será a refeição principal e, provavelmente, a mais farta.
Recomendo fazê-la no final do percurso do dia. Almoçar no meio do trajeto poderá causar certa indisposição para seguir o Caminho.
É no almoço que o “menu do peregrino” mostra sua vantagem. Inclui entrada, prato principal, sobremesa e vinho espanhol de qualidade. O valor fica em torno dos 9 ou 10 euros.
Como o almoço será, normalmente, por volta das 15hrs, o gasto com o jantar será bem reduzido, já que não sentirá muita fome.
Eu costumava tomar um café com leite acompanhado dos deliciosos croissants espanhóis. Não gastava mais do que 5 euros.


Resumindo, podemos dizer que para fazer o Caminho Português gasta-se, em média, 30 euros por dia, incluindo a hospedagem em albergues; e 50 euros/dia, se a acomodação for em hotéis de categoria turística.
Ressalto que nesse orçamento, não incluo o gasto com descolamentos em transporte público.
Seguro viagem
Além de ser exigido na hora do processo de imigração no aeroporto de destino, o seguro viagem é imprescindível para evitar transtornos maiores em caso de acidentes.
Portanto, no planejamento para fazer o Caminho de Compostela, não esqueça de providenciar o seguro viagem.
Existem várias opções no mercado. Deixo abaixo um link para que faça a cotação do que melhor se adequa a suas necessidades e condições.
Eu costumo viajar com dois seguros viagem. Um deles adquiro como cortesia na compra das passagens aéreas com o cartão de bandeira visa ou mastercard.
Para o segundo seguro, busco uma cobertura maior. Sempre adquiro a opção intermediária, já que tenho outro seguro reserva.
No caso do seguro adquirido pelas bandeiras Visa ou Mastercard, a apólice pode ser impressa no próprio site das empresas. Em caso de dúvida, basta ligar para o número de telefone no verso do cartão de crédito.
A "Credencial del Peregrino"

A “Credencial do Peregrino do Caminho de Santiago de Compostela” é um livreto que funciona como uma espécie de passaporte, garantindo descontos em albergues ao longo do Caminho e permitindo o consumo do “menu do peregrino”, que já mencionei anteriormente.
Mas a principal função dessa credencial é comprovar que o peregrino fez, de fato, a quilometragem mínima para que lhe seja concedida a “Compostela” (certificado de conclusão do Caminho de Santiago de Compostela).
Para os que fazem o Caminho a pé ou a cavalo, é necessário que se percorra no mínimo 100 km. Já os que preferem fazer o trajeto em bicicleta, devem comprovar 200 km de pedalada para conseguir a Compostela.
E como se comprova que de fato percorremos a quilometragem mínima exigida ?
Através dos “sellos” (carimbos) que devemos ir solicitando ao longo do percurso.

Todos os estabelecimentos que se localizam na rota do Caminho de Santiago de Compostela têm carimbos que os identificam e comprovam que o peregrino passou por lá.
Exige-se que se tenha pelo menos dois carimbos por dia; o que é fácil de conseguir.
Na hospedagem já se tem o primeiro deles. E ao longo do trajeto, o que não falta são lanchonetes e mercadinhos.
Quando terminamos o Caminho, a Credencial do Peregrino deve ser apresentada na Oficina del Peregrino de Santiago, na cidade de Santiago de Compostela.
Naquele lugar, será verificado se a localização dos lugares indicados nos carimbos confirma o cumprimento da quilometragem mínima exigida para que se conceda a Compostela.

Onde adquirir a Credencial do Peregrino ?
A Credencial do Peregrino pode ser obtida nas principais catedrais do Caminho, como a Sé Catedral de Lisboa ou a Sé Catedral do Porto.
Eu adquiri a minha, por 2 euros, na Catedral do Porto.
Mas se quiser sair do Brasil com a Credencial em mãos, basta entrar no site da Associação dos Amigos do Caminho de Santiago de Compostela e solicitar a sua.
Condicionamento físico para fazer o Caminho

É importante ter um certo condicionamento físico para conseguir caminhar uma média de 15 a 20 km por dia.
Caso você seja uma pessoa sedentária, recomendo que comece a fazer caminhadas diárias seis meses antes da sua viagem para a peregrinação.
Lembro que o peso da mochila torna a caminhada ainda mais cansativa. Por isso reforço a necessidade de ter um condicionamento físico razoável.
Outro aspecto que dificulta a caminhada é o fato de andarmos entre bosques e vilarejos, subindo e descendo montanhas.
Daí aproveito para ratificar a importância de estar calçado/a de forma apropriada. Não importa se é um tênis ou uma botina; o fato é que deve ser um calçado de pisada firme, não escorregadio e muito confortável.
Pratico a corrida como atividade física rotineira. E antes de fazer o Caminho de Santiago, eu tinha um ritmo de corrida de 8 km em 1 hora. Praticava numa média de quatro vezes por semana.
Estava muito confiante no meu condicionamento físico. Por isso planejei percorrer 33 km no meu primeiro dia de peregrinação.
Confesso que quase não consegui concluir. Pensei que meu projeto no Caminho de Santiago de Compostela havia terminado ainda no início.
Por isso ratifico a necessidade de se ter um bom condicionamento físico. Mas esteja atento às limitações do Caminho: rotas com muitas subidas e descidas; mochila pesada etc.
Planeje seu percurso sem exagero, mesmo que seja um atleta. É importante ser realista para não cometer o mesmo erro que eu cometi. Correr oito quilômetros quase que diariamente não me garantiu a condição física necessária para percorrer mais de trinta quilômetros num só dia.
Dicas para enfrentar as inevitáveis bolhas
Mesmo usando as meias mais adequadas e os sapatos mais confortáveis, as bolhas serão inevitáveis.
Compartilho aqui o método que aprendi, durante o Caminho, para a rápida cicatrização das bolhas.
Infelizmente só tomei conhecimento dessa técnica no final da minha peregrinação. Se já tivesse viajado com a informação que vou dar aqui para você, teria evitado muitas dores e poderia ter feito o Caminho de forma mais rápida.
As bolhas se formam com o atrito entre o pé e o calçado. O que causa as dores é o líquido que se forma no interior delas.
Para fazê-las cicatrizar, não adianta furá-las e espremê-las. É necessário drená-las.
Para drenar a bolha você vai precisar de agulha e linha. À noite, após o banho e quando já estiver deitado, atravesse a bolha com a agulha e linha.
Retire a agulha e deixe a linha atravessada na bolha. Ela será a responsável por drenar todo o líquido ao longo da sua noite de sono.
Ao acordar, retire a linha e aplique um remédio cicatrizante. Em seguida, cubra com gazes e esparadrapo para proteger e evitar que fique em carne viva no contato com o sapato.
Se tiver levado uma sandália de trekking, o que recomendo, use-a no lugar do sapato fechado no primeiro dia após a drenagem da bolha.
Caso não consiga embarcar com agulha na mochila, compre-a antes de iniciar o caminho. Mas não deixe de levar linha e remédio cicatrizante.
Tudo o que precisar para tratar sua bolha pode ser encontrado em qualquer farmácia ao longo do Caminho de Santiago. E se tiver alguma dúvida sobre como drenar a bolhar, peça orientação à farmacêutica.


Meu percurso de 113 km no Caminho Português

Como já falei anteriormente, iniciei meu Caminho na fronteira entre Portugal e Espanha. Mais precisamente em Tui, um vilarejo medieval espanhol.
Mas posso considerar que, na verdade, meu Caminho teve início ainda em Portugal, na cidade de Valença.
Foi lá que desembarquei do trem que peguei no Porto para chegar a Tui. Caminhei 3 km, cruzando a fronteira, até alcançar a cidade de onde partiria no percurso de 110 km.


Uma vez em terras espanholas, me instalei no meu primeiro hotel do Caminho. Aguardei ansiosamente o dia amanhecer para, de fato, iniciar a peregrinação.
Percorri 110 km, de Tui até Santiago de Compostela. Dividi meu trajeto no Caminho Português em cinco trechos, que foram percorridos em cinco dias.
- Dia 1: de TUI a REDONDELA (33 km)
- Dia 2: de REDONDELA a PONTEVEDRA (14 km)
- Dia 3: de PONTEVEDRA a CALDAS DE REIS (23 km)
- Dia 4: de CALDA DE REIS a PADRÓN (20 km)
- Dia 5: De PADRÓN a SANTIAGO DE COMPOSTELA (20 km)
Quero aqui ressaltar que meu trajeto no Caminho Português deveria ter sido dividido em seis trechos.
Fui demasiadamente ousada ao colocar 33 km no primeiro dia de caminhada. Essa quilometragem, na verdade, deveria ter correspondido a dois trechos do Caminho.
Veja os detalhes da minha peregrinação no link abaixo.

Kelly Fabiani
Mulher, Mãe, Alagoana, Arquiteta e Controladora de Tráfego Aéreo. Viajar sempre fez parte da minha vida. Em 2012, aos 40 anos de idade, me tornei Viajante Solo e, desde então, venho colecionando experiências, histórias e dicas de viagem pelo Brasil e por outros países mundo afora. No “Pelo Mundo By Myself“, compartilho todas elas com o intuito de auxiliar outros viajantes independentes na preparação de seus roteiros e para encorajar outras mulheres a desbravarem o mundo sozinhas, sem medo de ser feliz.
Vem Pelo Mundo By “Yourself”!